Crise: Todos com o mesmo Chapéu

Em outro artigo, defendi a ideia do desemprego, como uma fase de transição profissional e possível geradora de crescimento e grandes oportunidades. Sem a ilusão simplista e frases de autoengano, como colocar os óculos azuis para que tudo se transforme, também fugir dos óculos negros, em tudo parece perdido e que não há o que fazer.

Se devemos fugir destes óculos, seja para o desemprego, seja para as dificuldades que a crise impõe para as empresas, profissionais e empreendedores, podemos fazer uso de chapéus que sejam adequados para este momento. Me baseio na teoria de Edward de Bono que desenvolveu o a teoria dos Seis Chapéus do Pensamento (Editora Sextante, 2008).

É um método que vem sendo empregado por vários grupos de trabalho, visando tornar os debates mais produtivos. Evita-se que cada um destaque simultaneamente ângulos contrários do mesmo objeto, como por exemplo, suas vantagens e desvantagens. Tendo assumido uma posição inicial a favor ou contra algo, muitos se fecham nela, buscando argumentos para sustentá-la, sem dar chance a outras visões. Armam-se assim discussões intermináveis, em que a melhor a ideia deixa de ser a prioridade, mas sim a posição de cada um. É claro o desperdício de tempo e a origem de conflitos que se estendem por outras esferas.

Bono sugere a existência de seis chapéus de cores diferentes: o branco (visão neutra), o vermelho (emocional), o preto (espírito crítico), amarelo (pensamento positivo), azul (visão geral sobre o próprio pensamento) e por fim, o verde (criatividade). Numa análise em grupo, o método, de forma bem simplificada, consiste no uso de cada um dos chapéus por todos simultaneamente, estimulando as confirmações e complementos e não o confronto. Na atividade de consultoria, que muitas vezes envolve a condução de grupos de trabalho, posso afirmar que a técnica funciona.

No entanto, o que gostaria de provocar como reflexão é, fazendo uso da mesma metáfora dos chapéus, qual a cor seria mais útil neste momento? Qual deles nos ajudaria a melhor enfrentar a maior crise da história do país, sabendo que ainda virão medidas econômicas duras, até que revertamos estre quadro? Que chapéu devemos buscar no armário pela manhã e usar durante o dia, a fim de, na prática, livre dos chavões, transformar problemas em oportunidades?

Não, não precisamos do chapéu preto. Basta a realidade. O branco é insuficiente. No momento, o vermelho pode nos levar a ilusões, assim como o amarelo. O azul pode nos ajudar a manter o padrão de pensamento na frequência correta, mas sozinho não leva a ação. Resta assim o chapéu que pode fazer, nestes momentos de crise, toda a diferença, o chapéu verde, o que nos direciona à criatividade.

Mais do que aguardar que a situação se transforme, que o impeachment se defina, que a inflação caia e que a economia volte a crescer, penso que é hora de cada um, seja qual for o seu setor de atuação, função na empresa ou situação profissional, fazer uso do chapéu da criatividade. Ou seja, assumirmos como agentes ativos do processo. Como propõe Bono, todos fazendo o mesmo exercício, com o mesmo chapéu.

 

Julio Sampaio é diretor da Resultado Consultoria de Marketing e Vendas.

Juliosampaio@consultoriaresultado.com.br