Ninguém é livre se é dependente economicamente

Em tempos de Lavajato, Zelotes, Triplo X ou Acarajé, é importante lembrar que nada disso seria possível sem uma imprensa livre e independente. Nem a liberdade e nem a independência são coisas que caem do céu. A democracia é quase uma excessão em nossa história e como dizia meu avô, o preço da liberdade é a eterna vigilância. A democracia corre risco no Brasil? O senso comum diria que não, que não há sinais visíveis deste risco, como demonstram os próprios escândalos, que tragam indiscriminadamente personagens de nossa elite política e empresarial. Há um ex-presidente na eminência de ser preso, uma presidente ameaçada de impeachment, ex-ministros, ricos empresários presos e outros que o serão a qualquer momento. Há dinheiro roubado sendo devolvido para os cofres do governo, como nunca se viu na frágil história democrática deste país. As instituições parecem fortes, mesmo tendo em suas lideranças, personagens abomináveis como é o caso da presidência do Senado e da Câmara dos Deputados. Nós brasileiros nos acostumamos rapidamente com a democracia e agimos como se ela fosse natural, um direito consolidado. No entanto, há ameaças por toda parte. Várias foram as tentativas nos governos Lula e Dilma de interferência nesta liberdade, via legislação ou pela criação de algum órgão. Na maior parte das vezes ela ocorreu de forma disfarçada, em nome da própria democracia, mas estava lá o vírus, que uma vez implantado se replica como o zika vírus. Até o momento, escapamos, mas é bom não descuidar. Há, no entanto, um risco que poucos se dão conta: a quebra da imprensa, não pela legislação, mas pelo mercado. Jornais e revistas de grandes grupos vivem um momento crítico. A maior parte acumula altos prejuízos nos últimos anos, fez duros cortes de pessoal e enfrenta o desafio da própria sobrevivência. O pior é que não se pode dizer que seja uma questão conjuntural, fruto da crise econômica que passamos no Brasil. A revolução digital que afeta todos os setores causa na mídia um dos seus maiores impactos. Não se trata apenas de uma ruptura e uma substituição do antigo pelo novo. Vive-se um momento em que o antigo é destruído e não há nada no lugar, não um modelo que garanta um jornalismo economicamente saudável e por isso, independente. Não nos iludamos: precisamos de jornais e de revistas. O entretenimento e as manifestações culturais são importantes. Elas dão sabor a vida. Mas não será o Netflix, o Facebook, Google ou mesmo os noticiários das TVs que garantirão a democracia e a minha e a sua liberdade. A solução também não virá de concessões públicas ou de generosas verbas publicitárias do governo. Ela precisa vir do mercado, e nós, como leitores, anunciantes, empresários e trabalhadores, temos a nossa participação. O primeiro passo é a conscientização do problema por todos nós. Parece pouco, mas não é. A ignorância é sempre um inimigo ardiloso. Ela impede que as verdadeiras questões sejam enfrentadas. No momento, ela se alia à criação de soluções mágicas que não levam a nada, rituais corporativos inúteis e a uma legislação que engorda um sindicalismo retrógrado, que só defende os seus próprios interesses e que ao final dá um tiro no próprio pé.

Julio Sampaio é sócio da Resultado Consultoria. A empresa atua no mercado desde 1998, especializada na área de gestão de mídia, desenvolvendo trabalhos para alguns dos principais grupos de comunicação do país.