Xô Neura! Xô, Ansiedade!

Peguei o avião errado. Não, não é uma metáfora. É ridículo, mas acabo de descobrir que é uma verdade literal. Vou para o Rio de Janeiro, atrasado para o casamento de uma sobrinha e a ansiedade me faz entrar no avião errado e somente descobrir quando o piloto anuncia: “Dentro de instantes, estaremos aterrissando em Congonhas”. Minha primeira reação é: “Não, ele errou, não é possível, não há dúvida que estamos chegando no Rio”. Falo com a passageira ao lado, que confirma: “É claro que estamos indo para São Paulo. O voo para o Rio era o seguinte, logo após este”. É claro, é claro para ela e para todo mundo que está aqui, menos para mim. Tem o horário do casamento, a minha mulher que está me esperando e que certamente ficará brava, a incerteza do que fazer, pois a comissária de bordo não pode adiantar se haverá ainda horário de voo para o Rio. Além de tudo isso, o fato do quanto as minhas filhas irão fazer disso um bom motivo de chacota, invocando a culpa à minha ansiedade, tão difamada na família. Pensei em culpar alguém (sempre faço isso quando algo dá errado). A Cia Aérea era a primeira candidata, ou melhor, o funcionário que não conferiu direito o meu ticket. Sim, ele deveria ter verificado que eu estava entrando no portão errado, ou no chamado errado, sei lá… Mas isto não é suficiente. Talvez a culpa seja também da última edição da Inventa, que estava lendo, enquanto aguardava o embarque… A quem mais culpar? Não me resta muita saída. É mesmo a minha tradicional e conhecida (pelo menos entre amigos e familiares) ansiedade. Ela é a verdadeira culpada. Agora sim ela me irritou profundamente.

Já não é a primeira vez que ela me apronta. Não faz muito tempo, fui receber um prêmio de marketing junto com um cliente e antes de subir ao palco, entre o anúncio e a entrega do prêmio, o locutor iria ler os premiados e passar um filme institucional do cliente, o que para ele era importante. O que aconteceu? A tal ansiedade me fez subir ao palco antes mesmo do locutor pronunciar os nomes dos premiados, o que fez com que a solenidade fosse tão confusa, que nem mesmo o filme foi veiculado. Há ainda outras situações costumeiras, como a de chegar sempre antes de todo mundo nas reuniões, acordar diariamente antes do despertador tocar, ser o primeiro a entrar no avião (mesmo quando os assentos são marcados, com a desculpa de que eventualmente, os lugares são liberados e você só descobre isso quando já está dentro do avião e alguém sentado no seu disputado lugar – no corredor, à frente). Este por sua vez só é importante pela tentativa de também ser o primeiro passageiro a sair do avião (mesmo também quando ainda será necessário esperar pela bagagens, que não seguem nenhuma ordem, e que não obedecem a etiqueta de “prioridade” destinada aos passageiros vips do cartão fidelidade). Esta classificação, por sinal, tem como maior benefício para mim, o atendimento especial, que permite fugir das longas filas, destinadas às pessoas normais, ou as que não tem pressa. Percebo o quanto isto é ridículo e quanto o círculo é vicioso. Procuro a aeromoça que ainda não garante o meu retorno hoje. Lembro da minha sobrinha, da minha mulher e das implacáveis filhas, que não vão me perdoar por mais esta. Lembro também da propaganda do “xô neura da limpeza” e me identifico com a personagem. Desta vez, você passou do limite: “xô ansiedade” !!!

 (Julho, 2010)