A impontualidade nossa de cada dia

Se você é uma pessoa que, como eu tenta ser pontual no seu dia a dia, certamente você tem muitos motivos para se irritar aqui no Brasil. Provavelmente, você é sempre um dos primeiros a chegar nas reuniões ou outros compromissos, sejam eles profissionais ou pessoais, procura não reclamar e quando manifesta o seu aborrecimento, quando a recorrência de situações com as mesmas pessoas se torna insuportável, ouve críticas e comentários do tipo “calma, você anda muito estressado. Relaxa! Para que tanta pressa? ”. Se como eu, você já tem mais de cinco décadas de jornada neste plano, e neste país, você já desenvolveu mecanismos para tentar fazer destes tempos de espera, pelo menos, um pouco produtivos. Talvez você aproveite para responder mensagens, acessar uma rede social, ler ou mesmo escrever (quem sabe, um artigo ou até um livro. Sim, certamente, você encontrou um jeito de sobreviver, já que é você, e eu, que temos que mudar e não a maioria em volta, diria o senso comum. Afinal, ser pontual é um problema nosso. Os incomodados que se mudem. Ou se adaptem, não é mesmo? O que não é só problema nosso são os efeitos, desta, digamos, característica de nossa personalidade como país. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Industria (CNI) o Brasil ocupa um dos últimos lugares em produtividade, ocupando a 11ª posição entre 12 países pesquisados. Somos assim tão atrasados? Não, somos improdutivos. E mais do que isso, somos muito improdutivos. Não apenas no setor econômico, mas em todos os campos da vida. Para compensar, gastamos muito mais horas no que classificamos como “tempo de trabalho”, em que costumam estar incluídas horas de deslocamento, cafezinhos, parada para o cigarro ou um lanche, bate-papos (vários), conversas preliminares (sem as quais nenhuma reunião começa no Brasil) e outras tantas e tantas formas de matar o tempo e assim nos enganarmos, pensando que estamos trabalhando muito, já que saímos cedo de casa e só voltamos muito tarde. Comparando com o americano típico que sai do trabalho às 17h, janta às 18h e está livre à noite para a família, um show ou cinema, ou simplesmente dormir cedo, a nossa vida parece muito sacrificada. É imensurável o tempo que desperdiçamos. É incalculável o tempo que perdemos por causa do desrespeito dos outros pelo nosso tempo ou de nós pelo tempo dos outros. Como não trabalhamos bem no tempo devido, o trabalho e o seu entorno ocupa muito mais de nossa vida do que deveria. Nossos outros papeis (familiar, conjugal, pessoal, transcendental) são sacrificados. Como precisamos ter todos estes pratos equilibrados, vivemos a permanente sensação de que não tem jeito, e que o melhor é relaxar e deixar que a vida, como diria o Zé Pagodinho, nos leve para onde for. Ao contrário disso, o filósofo japonês Mokiti Okada diz: “para conhecer o grau de sinceridade de uma pessoa, observo se ela é pontual em seus compromissos”. Parece pouco, mas não é. A sinceridade, que não deve ser confundida com franqueza, está relacionada a tentar fazer o que fala fala e tentar falar o que faz. Ou seja, dar valor a sua própria palavra, mesmo em coisas simples, como um horário combinado. A impontualidade é muito mais cara do que parece e pagamos todos nós por isso, mesmo pessoas como você ou eu.

Julio Sampaio é sócio da Resultado Consultoria. A empresa atua no mercado desde 1998, tendo desenvolvido trabalhos para alguns dos principais grupos de comunicação do país.