Como diria o Professor Belmiro, o Brasil não é mesmo um país para amadores

Lembrei-me do título de um dos livros do Professor Belmiro Valverde, o Brasil não é para amadores ao alugar um carro em Curitiba, uma vez que deixara o meu no Rio de Janeiro. Minhas únicas experiências em alugar um carro tinham sido no exterior e estava certo de que no Brasil também seria algo simples, sem maiores complicações. Programei pegá-lo no aeroporto. Fiz a reserva pelo site, que parecia ser o da própria locadora. A confirmação viera alguns minutos depois por e.mail, o que sinalizava que estava tudo certo. Ao chegar, no entanto, tive a notícia de que o carro não estava reservado. Segundo a atendente isto sempre ocorre quando a reserva é feita por uma agência e não diretamente com eles. Expliquei que entrei no próprio site da empresa, mas de nada adiantou. Ela esclareceu que a reserva tinha ocorrido por uma agência, que também tinha um site da locadora. Ela podia me dar o número da central direta da empresa, onde tal fato não aconteceria. Não entendi, mas isto era o de menor importância naquele momento. Queria apenas resolver a situação, pegar o carro e seguir para casa. A sequência porém ainda envolveu: não ter disponível a categoria que eu havia reservado e um desgaste com a moça, que queria me oferecer uma categoria inferior e não uma superior, que seria o devido, uma vez que a empresa é que não podia cumprir o acertado, mesmo feito através de um agente. Por fim, tive ainda que aguardar mais de 40 minutos numa noite fria de Curitiba (temperatura de cerca de 2 graus), do lado de fora do aeroporto, até que o funcionário me levasse o carro da garagem, situada a apenas alguns metros de onde estava. Passada uma semana e precisando ainda de um veículo, entrei em contato com a tal central e tive então a segunda surpresa. Pela central, o preço era 70% maior. Resolvi ir à loja do aeroporto e um terceiro preço, ainda mais elevado. A própria (a mesma) atendente esclareceu que a locação direta na empresa é mais cara do que em uma agência de turismo, que compra grandes quantidades, que na central telefônica tem um outro preço e que na loja seria, de todos, o preço mais elevado, podendo chegar ao dobro do da agência. Em um tom de cumplicidade (a esta altura já estávamos do mesmo lado), complementou que o menor preço era por uma companhia área, que tinha formado um convênio promocional. Disse ainda que se eu fizesse em nome de pessoa jurídica, o preço seria ainda menor. Diante de tantas variáveis, e, sem nenhuma pista do que seria um preço justo, desisti. Alugar um carro no Brasil não é para amadores. Também não é para amadores ter um cartão de crédito em que a taxa anual é cobrada em um valor exorbitante para os incautos, enquanto que, para outros mais atentos, um único telefonema pode reduzir o valor em 50%, após uma transferência automática para um setor de “negociação de tarifas” (o que faz existir um setor deste tipo?). Descobri isso a pouco tempo, me culpando por todos os anos que paguei sem questionar o valor da anuidade, pensando que era o mesmo para todos. Também não é para amadores fazer um anúncio em um veículo de publicidade, cujas tabelas costumam ser feitas para serem negociadas, e que podem chegar, em alguns casos a 80% ou 90% de desconto. Mesmo sem ser na mesma proporção, isto também ocorre em outros setores. Em comum, o fato de que os incautos são punidos e se não reclamarem, pagarão sempre mais caro. Não se trata assim de uma situação isolada. É quase que um traço cultural: o comportamento especulativo. Não sei se ainda é herança dos tempos da elevada inflação, em que os preços eram desconhecidos e em permanente evolução, ou por fatores históricos, relacionados à escassez, ao objetivo de tirar vantagem ou pelo caráter exploratório de nossa colonização. Não sei se estamos condenados a ser assim para sempre. É algo ruim, enfraquece a confiança entre as pessoas, dá trabalho, é improdutivo, gera perda de tempo, além da permanente sensação de que alguém está tentando levar vantagem sobre nós. Será que o Brasil será um dia um lugar em que mesmo os amadores possam viver desarmados, sem precisar se defender a cada momento, através de uma negociação ou especulação? Enquanto isso não ocorre, se precisar, ao invés de alugar um carro, ando de táxi. Ainda restará saber se é bandeira 1 ou 2, mas pelo menos, há um taxímetro.

(Julho, 2011)