Errado, mas do lado certo

Não faltam informações para nos lembrar o quanto as coisas andam difíceis. Falar no déficit fiscal que está em quase R$ 200 bilhões neste ano, após uma previsão inicial de superávit de R$ 30 bilhões, já aponta a gravidade da situação. Pior ainda são os 11 milhões de desempregados no Brasil. Como sabemos, o mal social deste efeito vai muito além do que pode ser medido em números. Somando-se à insegurança política e à ausência de lideranças confiáveis, teremos razões de sobra para sermos pessimistas quanto aos próximos tempos. No entanto, também podemos considerar a hipótese de que todas as previsões que vêm sendo feitas não se concretizem. A ciência econômica, o mercado e os experts com muita frequência estão errados, para o bem e para o mal.

. O chamado senhor mercado é temperamental, tem variação de humores e costuma acreditar em suas próprias invenções, até que receba duros choques de realidade. Foi assim com a bolha da internet nos anos 90. Foi também o que ocorreu na crise financeira de 2008, tendo como fundo os títulos hipotecários nos EUA. No livro A Jogada do Século, que deu origem ao filme A Grande Aposta, Michael Lewis demonstra o quanto de castelo de areia existe no mundo encantado de Wall Street.

Aqui no Brasil tivemos o Império X. O ex-candidato a homem mais rico do mundo, ex-bilionário e ex-campeão de tudo Eyke Batista, chegou a ter em bolsa, empresas no valor de quase R$ 90 bilhões, ainda que a sua petroleira OGX, na época, não tivesse produzido sequer um litro de petróleo. Eike foi venerado pelos maiores fundos de investimentos globais, pelos maiores bancos nacionais (incluindo BNDES) e internacionais, e por grandes lideranças mundiais. Ao final, sua fortuna evaporou-se no meio de acusações diversas, recuperações judiciais e centenas de pessoas que se sentiram enganadas (ver o excelente livro Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X, da jornalista Malu Gaspar).

No sentido oposto, após uma série de planos fracassados e quando parecia que o Brasil estava condenado a viver o resto de seus dias com uma inflação que chegou a 2.477% somente em 1993, é criado o Plano Real, livre de congelamentos, de surpresas da calada da noite, sendo ao contrário, anunciado prévia e didaticamente. Por dominar o implacável dragão da inflação (ele ressurgiria 20 anos depois, sem a mesma força, mas com o mesmo potencial de perigo), foi a estabilidade monetária o grande elemento de fortalecimento da classe média brasileira, ainda mais importante que os programas sociais que viriam depois. No momento, temos uma equipe econômica reconhecidamente capaz. Quem sabe não teremos uma outra virada?

Mestre Zu (Zuenir Ventura), recentemente no programa 50+ da Rádio CBN, disse que a pior coisa do pessimista é que ele torce para dar errado, só para estar certo. Acrescento que, se tudo está perdido mesmo, por que fazer o que é tão difícil, e que precisa ser feito? É mais fácil ser pessimista quando tudo aponta para o pior. Mais difícil é supor que as previsões podem estar erradas e acreditar que podemos, cada um de nós, fazer diferença, transformando para melhor o que ainda virá. Se estivermos errados, pelo menos teremos torcido pelo lado certo.

 

Julio Sampaio é sócio da Resultado Consultoria de Marketing e Vendas.

Juliosampaio@consultoriaresultado.com.br