Os Ventos gelados da república de Curitiba

De Curitiba tem partido bons ventos. Ventos gelados para poderosos de Brasília e de elites históricas, políticas e empresariais. Mesmo tendo que pagar um preço alto pelos efeitos na economia da operação Lavajato, os brasileiros, em sua absoluta maioria, torcem com esperança para que o bem continue a avançar, colocando na cadeia aqueles que vêm assaltando o nosso país, por tanto tempo e, materialmente falando, de forma tão compensadora. Quando o crime compensa, não há solução. No entanto, há nestes ares frios uma nova situação, para nós inédita. Alemanha, França, Portugal e outros países já experimentaram ter ex-presidentes e ex primeiros ministros presos por corrupção, fraqueza que não é exclusiva de nenhum povo, mas que floresce vistosa em todos os lugares em que não é combatida exemplarmente. No Brasil isto pode ter um poder revolucionário, o da crença de que o que é justo vai prevalecer. O dramaturgo alemão Bertolt Brechtdisse certa vez que “Infeliz é a nação que precisa de heróis”. Aqui, nomes como Sérgio Moro e Rodrigo Janot (anteriormente foi Joaquim Barbosa), logo se transformam em heróis, por fazerem simplesmente isso, lutar contra os poderosos, pelo o que é certo e pelo o que é justo. Isto deveria ser apenas a sua obrigação.

Mas é também de Curitiba que surgem ventos do atraso. Juízes, de forma orquestrada, moveram um pouco menos de 50 ações, que estão sendo julgadas por eles mesmos, contra o jornal Gazeta do Povo e 5 profissionais do jornal, por matéria que apontava que os juízes e promotores do Paraná teriam recebido acima do teto constitucional do funcionalismo público. Mesmo sendo jornalismo puro, seguindo orientações da Associação dos Magistrados do Paraná, processos vem sendo abertos seguindo o mesmo padrão, em cidades diferentes, obrigando os repórteres a se deslocar de um local para o outro, sob o risco de serem julgados à revelia, não tendo assim tempo para fazer mais nada a não ser ir de um lado para o outro para defenderem-se.

Isto é inaceitável não apenas por ser um cerceamento à liberdade de imprensa, sem a qual não existe democracia. Sem ela nós, cidadãos comuns, não saberíamos de mensalões, petrolões, gravações, extorsões e tanta coisa que ficaria confortavelmente debaixo de caros tapetes importados. Não é a imprensa que precisa de proteção, é a sociedade que necessita. Para o julgamento da imprensa, existem os leitores com as suas opções de escolhas e os caminhos jurídicos comuns, sem subterfúgios ou ações de classe.

Mais há ainda um outro fator que torna isto inaceitável. É o retorno do princípio da força, do “olha com quem você está mexendo”. Um dos maiores benefícios de todos os escândalos que vem varrendo Brasil é sinalizar (ainda a ser comprovado) que a lei é para todos e que não há mais espaços para o velho coronelismo brasileiro, mesmo que sob uma nova roupagem. Este episódio, se não revertido, representa um forte retrocesso e o oposto do que os bons e gelados ventos de Curitiba tem nos proporcionado.

Julio Sampaio é diretor da Resultado Consultoria de Marketing e Vendas.

Juliosampaio@consultoriaresultado.com.br