Qualidade do jornalismo e o modelo de negócio

A qualidade do jornalismo não está necessariamente relacionada à cobrança ou não do conteúdo pelo leitor. Há exemplos de jornalismo sério e de jornalismo de baixa qualidade, tanto na categoria dos pagos quanto nos gratuitos. Os jornais das televisões abertas não são piores do que os jornais das TVs por assinaturas, e nem mesmo dos jornais impressos pagos ou gratuitos, que também possuem bons e maus jornais. Aspectos como linguagem e perfil de público também não significam maior ou menor qualidade, variando conforme a sua proposta como produto. Dentre os diversos fatores que estão relacionados à qualidade, um deles é fundamental: a autonomia econômica, condição mínima para a independência de qualquer empresa ou pessoa, em qualquer sentido. A expressão de que “para as empresas jornalísticas, o lucro é um dever ético” traduz bem esta questão. Nos dias atuais este lucro parece cada vez mais difícil. A principal razão disso não é a cobrança ou não do conteúdo. Jornais são há muito tempo (há pelo menos algumas décadas) empresas que vivem predominantemente da receita publicitária, tradicionalmente em torno de 70% de um jornal dito qualificado. Empresas de mídia, como é o caso dos jornais na sua essência, enfrentam hoje um mercado muito mais competitivo e pulverizado no que foram os dourados anos de 80 e 90 para o setor impresso. No entanto, algumas coisas não mudaram e parecem que não vão mudar. A força da marca continua sendo a primeira grande variável. Ela pode ter ou não credibilidade, legitimidade, conceito, histórias acumuladas com o seu público. Neste aspecto, tradição pesa e o fator tempo pode contar muito a favor, influenciando até mesmo o retorno dos anúncios. Um segundo aspecto é o volume e as características de sua audiência, que proporciona maior ou menor atratividade como mídia. Estas duas condições não são suficientes, porém, se não estiverem acompanhados de um modelo de negócio consistente e bem gerido, que não se traduz pela venda ou pela gratuidade de conteúdo, seja no impresso, nas plataformas digitais ou em qualquer outra.

 (Maio, 2011)