Tempo de plantar e tempo de colher

Marco Antônio é um profissional dedicado que vem conquistando a admiração e respeito de seus colegas e do mercado. Na empresa está há pouco mais de um ano e vem obtendo bons resultados, como executivo de vendas. Quando chegou estava em um momento delicado de sua vida, após uma iniciativa empreendedora mal sucedida, em que perdeu o que havia conquistado materialmente, acumulando dívidas da empresa, que se refletiram na vida pessoal. Com mulher e dois filhos foi obrigado a mudar-se para a casa da sogra, o que lhe custou muito emocionalmente. Mesmo sem ter experiência no setor, Marco Antônio demonstrou muita vontade de reerguer-se e com isto conquistou um voto de confiança de seu futuro gerente, que defendeu o seu nome junto à diretoria, por ocasião do processo de seleção. Marco vem correspondendo a esta confiança e em menos de um ano, já fez jus à uma promoção de nível, ganhou um carro zero em programa de incentivo e já teve seu nome lembrado como um futuro postulante à uma vaga de coordenação, ao lado de poucos nomes da equipe, todos muito mais experientes. Já está morando em sua própria casa com a família, o que representou um tipo de vitória especial. Tendo resultados e vendo o seu trabalho reconhecido, Marco teria motivos para estar feliz. No entanto, ele tem pressa. Está na faixa de 30 anos e quer ascender profissionalmente tão logo possa. Recebeu algumas sondagens no mercado. Não são empresas tão sólidas quanto a que trabalha, que é líder em seu setor de atuação e um dos maiores grupos do estado. No entanto, no curto prazo, oferecem um salário maior, talvez na ordem de 20% ou 30%, o que lhe faria uma boa diferença no orçamento familiar. Nas últimas semanas, Marco tem conversado com frequência com o seu gerente, que manifestou muito interesse em preservá-lo na equipe, sinalizando porém, que não teria orçamento para mudanças significativas a curto prazo. Ainda assim, estava pleiteando junto a empresa uma pequena melhoria salarial para ele. Marco tem se impacientado e anda pensando em trocar de emprego, visando esta diferença salarial.

Casos como o de Marco não são tão incomuns. Profissionais com bom desempenho costumam ter pressa em colher frutos, mesmo quando o tempo ainda deveria ser predominantemente de plantio. A natureza ensina que cada semente tem o seu ciclo de tempo bem definido. O bom agricultor respeita isso. No mundo corporativo nem sempre estes ciclos são claros ou os profissionais estão dispostos a respeitá-los. O risco é que boas sementes se percam, por serem retiradas antes do tempo ou serem levadas para terrenos não tão propícios.

  (Junho, 2011)